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sexta-feira, dezembro 03, 2004
Sem tema
Hoje sentei aqui na frente do computador para escrever uma crônica. Estava determinado a não falar de política, apesar de, como sempre, sentir uma coceirinha na ponta dos dedos para criticar o governo Lula ou elogiar uma ação tucana. Mas prometo ao meu amigo Marcel que dessa vez vou ficar quietinho aqui e não vou nem comentar que a prefeita Marta (PT) pediu licença do cargo justamente na época mais difícil para se governar ou então que o presidente Lula jogou papel de bom no chão ou qualquer outro comentário do gênero. Olha só eu não resisti e acabei falando.
Já que não quero falar de política e não tenho mais nada para falar, hoje farei uma crônica sem tema. Não é a primeira vez que faço isso e, se for pesquisar aqui no meu arquivo, devo descobrir que no mínimo 10% dos textos partiram de uma total falta de assunto e o pior é que a grande maioria deles também terminou sem nenhum assunto definido.
O mais legal dessa história de escrever sem assunto nenhum é que você não precisa ficar preso a nada. Posso falar do Lula (como falei no primeiro parágrafo) e logo depois comentar da beleza das flores do meu quintal (e olha que nem quintal eu tenho aqui em casa). A gente faz isso e o leitor não reclama – tudo bem que alguns param de ler o texto logo que vêem o primeiro parágrafo, porém nenhum nunca veio reclamar comigo.
É estranho imaginar, contudo até mesmo escritores dos mais consagrados utilizam essa técnica de não falar sobre nada. O que nos diferencia é que eu, por não ter nada a perder, assumo que estou escrevendo mesmo sem ter assunto e eles não. Enrolam o leitor até a última palavra, apesar de não saberem exatamente qual foi o tema desenvolvido. E para a surpresa dos autores as crônicas escritas sem pensar acabam ganhando vida própria e por diversas vezes viram até mesmo questões de vestibular. O mais engraçado é que as perguntas nas provas geralmente são: “O que o autor quis insinuar com a passagem grifada no primeiro parágrafo do texto?” Qualquer vestibulando que se preze responde a pergunta com a maior facilidade, entretanto se apresentássemos a questão aos autores, tenho certeza, eles não saberiam nem por onde começar a dissertação sobre o próprio texto.
Antes que me acusem de generalizar as coisas é bom que eu diga que nem todo texto parte do nada e chega em lugar nenhum – como é o caso desse meu -, mas afirmo sem medo de errar que todo autor já escreveu um texto assim. Acho que a única falha que cometi no texto – modesto eu, né? - foi dizer que os autores não responderiam. Sim, eles responderiam, todavia a resposta não necessariamente é a verdade, afinal o autor não quis insinuar absolutamente nada com a passagem grifada no primeiro parágrafo do texto.
E quem nunca escreveu sem saber sequer o tema que atire a primeira pedra.
Enviado por
Gabriel H.
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