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sábado, maio 29, 2004

Prólogo 

Nós, vizinhos, não agüentamos! Alguns familiares deles também não agüentam ouvir o grito: Consumidores! Dinheiro! Lucro!
Esses indivíduos representam carentes in continente duplo-oceânico. Adeptos dos 'fast-foods', da churrasqueira para fazer hambúrgueres, eles querem comer qualquer coisa, sem importar a maldita AIDS. Infelizmente nem todos podem entrar para a calçada da fama, então que seja da infâmia. Dentro de seus organismos há o vírus: Infectio intercruzis, popularmente conhecido como Cruza-cruza.
Nas terras tropicais, certos habitantes, encantados pela sua língua estranha, montaram monumentos os homenageando: McDonald's, Blockbuster's, Bank Boston's, Texaco's e infinitos outros. Por razões naturais ou hormonais, melhor dizendo, relações sexuais são rotineiras junto aos esquisitos. Porque mostram força, mostram como dominarão nosso mundo, muito em breve o espaço, quem sabe, falam inclusive do plano em destronar o divino-pai, quem sabe! Desse modo a Epidemia Cruza-Cruza está em alta, não na Bolsa de Valores, logicamente.
Povo mal esclarecido, governantes contagiados; somente dentre estudantes, estudiosos e professores existem sobreviventes. Como ficam os infectados? Querem saber? Como podemos chamar os esquisitos, alguma sugestão? Esta história só continuará, se você quiser. Portanto, usem e abusem das palavras.


Enviado por Marcel



sexta-feira, maio 28, 2004

Café


Sabe aquele cheirinho de café que dizem ser irresistível? Eu não gosto. Mas não estou aqui para discutir o cheiro nem o sabor (que também não gosto) do café. Quero falar sobre a importância do "marronzinho" para o Brasil.
Outro dia a professora de Geografia contou na aula a história do bom (discordo!) e velho cafezinho. Ele já era plantado no Brasil desde a época do início da colonização, porém (pasmem!) era usado como planta ornamental. Ele veio da Guiana Francesa – ou de uma das outras, não tenho certeza – e foi descendo pelo litoral até chegar no Vale do Paraíba, que por incrível que pareça não fica na Paraíba e sim na divisa entre Rio de Janeiro e São Paulo. Foi nesse ponto que começou a agricultura cafeeira de fato. Entretanto não ficou muito tempo nesse lugar e logo migrou para o interior de São Paulo. É nesse ponto que o progresso brasileiro tem início. O café produzido aqui era para exportação e precisava ser levado para outros países, para isso era necessário levar a carga até o Porto de Santos. Mas como? Construíram-se as estradas de ferro para resolver o problema.
O que quero demonstrar contando essa história é que o pouco que temos é devido ao café. Ele começou a crescer em São Paulo, hoje o estado mais rico do país. Graças a ele foram construídas as primeiras ferrovias. Para cuidar dele os estrangeiros vieram para o Brasil. E assim, aos poucos ele fez este país se desenvolver.
É claro que não tirarei aqui os méritos de outras partes importantíssimas da nossa economia, como a plantação de cana-de-açúcar, a extração de látex e a exploração de minérios. Porém o café se manteve forte durante muito tempo (e ainda é). Até hoje podemos ver ricas fazendas de café. Das nossas sementes sai o "coffe" que os americanos tomam enquanto trabalham, das nossas plantações sai o "cortado" (café com leite) que os espanhóis tomam nos bares.
Nosso cafezinho de cada dia movimenta a economia global. Nunca vi reunião de negócios que não seja regada a um bom café.


Enviado por Gabriel H.



quarta-feira, maio 26, 2004

Rita


Capítulo IV – Família Silva


— Você sabe perfeitamente que não posso negar isso. – Geraldo media suas palavras.
— Só faltava negar. Eu vi como vocês se olharam. Desconhecidos não se olham com tanta raiva.
— Eu e seu pai fomos vizinhos durante a minha adolescência. Eu ainda era muito jovem, gostava de aprontar. Certo dia discuti com seu pai e risquei o carro dele.
— Começo a entender. Mas uma traquinagem de adolescente gerou toda essa raiva?
— Não a traquinagem em si, mas as conseqüências que ela tomou. Seu pai ficou muito nervoso, quis cobrar os prejuízos do meu estrago, mas o velho não quis pagar. Resultado: seu José Maria processou o meu pai, que somando gastos com o processo e o que teve que pagar por conta da minha traquinagem entrou em uma crise financeira da qual nunca conseguiu se recuperar. Tivemos que mudar de casa, fomos morar na parte mais pobre do subúrbio, meu pai começou a beber, minha mãe saiu de casa e muitas outras coisas que nem vale a pena contar.
— Entendo o motivo da sua raiva. Você nunca poderia imaginar que aquela sua pequena travessura fosse render o fim da sua família. Grande parte disso se deve ao meu pai.
— Espero que você me entenda.
— Tudo bem. Procurarei nem tocar mais nesse assunto
— Agora por favor volte ao trabalho.
— Voltarei.
***

Para que a história seja bem contada é extremamente necessário que a família Silva seja apresentada. O nome Silva é um dos mais comuns nos brasileiros e falar de toda essa família seria um pouco complicado. Por isso vamos nos ater a uma pequena parcela dessa, basicamente três pessoas: Geraldo, Silvana e Mauro. Como vocês já devem ter reparado, apenas um dos três é conhecido. Os outros são sua mulher e filho.
Um pedaço do passado de Geraldo já é conhecido. Seu pai, Carlos Silva, perdeu tudo. A família se desfez. Tudo de ruim que poderia acontecer aconteceu. Sem dúvida isso tudo foi de fundamental importância para a formação do caráter de Geraldo.
Mulherengo incorrigível, não havia mulher que resistisse a seu charme. Manteve essa mania até o dia em que conheceu o grande amor de sua vida. Tinha 17 anos e acabava de passar por um relacionamento muito conturbado. Foi apresentado a Silvana em uma festa de aniversário e desde então não tirou a menina da cabeça. Mais do que os olhos castanhos e os cabelos morenos, Silvana mostrava inteligência e maturidade incríveis para uma garota de sua idade (15 anos).
Começaram a namorar. Silvana tinha medo de ser somente mais uma conquista na vida de Geraldo. Seus pais não eram a favor do relacionamento. Tudo conspirava contra o casal, mas ela sentia que ele a amava. Nunca havia suspeitado nenhuma traição – apesar de saber que Geraldo não era homem de uma mulher só.
Numa tarde de sábado Geraldo levou Silvana passear no Museu do Ipiranga – era o máximo que o seu apertado orçamento podia agüentar – e, inesperadamente, disse:
— Pela primeira vez na vida posso dizer que estou apaixonado. Você sabe que mulher é uma coisa que nunca faltou na minha vida, porém nunca senti nada além de atração física por elas. Desde que nos apresentaram eu não consigo tirar você da minha cabeça. Você não é só bonita. Você é inteligente, sincera e, principalmente, a mulher que eu escolhi para viver pelo resto da vida. Você não imagina como eu estou nervoso... Mas é agora ou nunca: Silvana, quer casar comigo?
— É claro que eu aceito. Você acaba de me dar a prova que eu precisava. Agora tenho certeza que aquele seu passado de mulherengo ficou para trás. Você não se amarraria a ninguém se não tivesse se apaixonado.
Do pedido ao casamento de fato passou menos de dois meses. A festa foi linda – apesar das restrições orçamentárias. Flores enfeitavam todo o salão. A noiva estava simplesmente deslumbrante, o vestido era indescritível.
A vida de casado não é tão bonita quanto a de namorados, porém os dois nunca deixaram aquele amor do primeiro dia morrer. Dizem que os filhos de casais apaixonados nascem mais bonitos. Não posso dizer se isso é uma verdade absoluta, porém no caso de Silvana e Geraldo deu certo. O filho dos dois, Mauro,nascido no ano das Diretas Já, juntava tudo de bom que seus pais tinham: simpatia e charme do pai e beleza e inteligência da mãe.
Além de ser bonito e inteligente, Mauro teve sorte. Durante sua infância seu pai, até em tão um "pé-rapado", foi ganhando dinheiro. Conseguiu dinheiro emprestado com um amigo e abriu um pequeno barzinho. Não tinha planos de fazer o estabelecimento passar de um boteco, contudo a comida servida lá era gostosa, o atendimento de alta qualidade e nenhum freguês saia reclamando. Essa é a fórmula do sucesso. De um pequeno boteco, o bar de Geraldo evoluiu para uma grande e famosa lanchonete, chegou a abrir filiais em outros estados e resolveu os problemas de dinheiro do seu dono.
Certo dia, quando Mauro tinha 14 anos, Geraldo trabalhava em seu escritório quando Silvana entrou. Ela estava claramente nervosa. Ao ser indagada sobre o motivo de tamanho desespero, ela disse:
— Acho que nosso filho está com algum problema.


Enviado por Gabriel H.



sábado, maio 22, 2004

Saudável discussão


Quarta-feira, assisti ao exercício da Filosofia, ou seja, a arte de argumentar e criticar. Quem pretende transformar sua vida em palavras precisa logo cedo saber usar isso.
Para deixar bem claro a que vim neste blog, tomo como base o Manual da Redação, Folha de S. Paulo, 2001:

"Profissionais da Folha de S. Paulo são aconselhados a se criticarem uns aos outros, de maneira franca e pertinente, se aconselharem entre si, mantendo um debate vivo e provocador".
Igualmente aqui no "Os Cronistas" cabe, essencialmente, incentivar esses diálogos entre seus membros, leitores, para estimular o trabalho individual e desfazer a impressão de isolamento que freqüentemente acomete escritores virtuais.
Seja na Internet ou fora dela sempre foi da minha práxis manifestar minhas verdadeiras opiniões sobre quaisquer textos, situações ou atitudes. Mas nunca tive o intuito de repreender, senão apontar falhas que num futuro próximo podem ser evitadas.! Cumpre a cada participante cobrar a chance de ser ouvido com distinção e respeito.
Portanto, Bruna (irmã do Gabriel), caros leitores, bem como membros deste blog, externo a vocês minha vontade de receber críticas fundamentadas, construtivas, coerentes; em dar total atenção para suas palavras revoltosas, indignadas ou pedindo esclarecimentos. Ajo como aquele amigo que propicia uma chance aos outros de comunicarem seus pensamentos mais íntimos e honestos, revelarem o que se passa em suas cabeças .

"Embora seja uma noção atraente, a probabilidade de tanta honestidade depende de duas coisas:

    Primeira: quantas questões ocupam nossas mentes; em particular, quantos pensamentos temos a respeito dos amigos que, apesar de sinceros, são potencialmente perigosos e, apesar de honestos, podem parecer agressivos.
    Segunda: avaliarmos se as pessoas estariam dispostas a romper uma amizade se ousássemos expressar para elas esses pensamentos honestos — uma avaliação feita em parte de acordo com nosso senso do quanto somos encantadores, e do julgamento de que as nossas qualidades seriam suficientes para preservar a amizade com as pessoas, mesmo se as irritarmos momentaneamente por revelar que desaprovamos sua poesia ou fiancée."

De Botton, Alain. Como Proust pode mudar SUA VIDA. Tradução de    Luciano Trigo. Rio de Janeiro, 1999. Editora: Rocco.


Enviado por Marcel



sexta-feira, maio 21, 2004

Omelete de Prefeita


O ovo é um alimento maravilhoso. Além de ser delicioso ele é muito útil em protestos. Não é muito difícil ver cenas de políticos atacados por ovos (as vezes são tortas, porém o mais comum são ovos mesmo).
Ontem, mais uma vez, esse artifício foi usado. A vítima da vez foi a nossa "querida" prefeita Marta Suplicy (o que é um ovo para quem já foi atingida por uma galinha?). Fizerem um verdadeiro omelete de "Martaxa" (com todo respeito as utilíssimas taxas criadas pela senhora prefeita).
Acho que os manifestantes estão precisando de cursos de reciclagem. Essa história de jogar ovo em político já cansou. Criativo foi aquele sujeito do Partido Feudal que jogou uma galinha na prefeita. Além de criar o constrangimento na hora, ele ainda conseguiu fazer o ministro da justiça falar bobagem – quem não se lembra da pérola "Jogar uma galinha em uma mulher é o mesmo que jogar um veado em um homem"? – e ainda nos rendeu uma das mais divertidas charges do site Charges.com.
Voltando ao ovo na prefeita, acabo de ver na internet que ela disse que o pessoal que sujou a chiquérrima roupa dela era da Moóca (para quem não sabe o José Serra nasceu nesse bairro de São Paulo). Que mal pergunte, como ela descobriu o bairro dos baderneiros? Ela estava em Guaianazes e a Moóca e relativamente distante (não muito, mas em uma cidade como São Paulo não existem pequenas distâncias), como ela e/ou seus assessores chegaram a origem dos arruaceiros?
Agora acabei entrando em outro tema (não se preocupem, pois eu não vou falar sobre a geografia da cidade): as eleições municipais. Nessa segunda–feira assisti ao programa Roda–Viva na TV Cultura, onde o entrevistado era o pré–candidato a prefeito José Serra. Ao contrário do que a maioria das pessoas pensam, ele está muito preparado para enfrentar essa briga. Conhece muito bem os problemas da cidade e se a eleição não for federalizada (o que eu duvido) continuará sendo uma boa briga, um debate de idéias (como tem que ser).
A crônica de hoje ficou curta e até meio cansativa, acabei passando pelos dois assuntos de maneira muito básica. Mas tudo bem, a missão está cumprida e a crônica publicada.


Enviado por Gabriel H.



quarta-feira, maio 19, 2004

Rita


Capítulo III – Depois das cinzas


As emoções naquele dia tinham sido tantas – e tão grandes – que Rita sequer conseguia demonstrar direito seus sentimentos. Após o enterro chorou, mas em segredo. Nunca havia chorado em público – não que quisesse se demonstrar mais forte do que era, contudo não conseguia – e nem em situações tão horríveis como essa era possível ver uma lágrima escorrendo de seus olhos.
***

Já havia se passado dois dias da tragédia, mas mesmo assim Rita ainda estava muito abalada. Se não bastasse ver seu marido morrer de forma tão horrível (imagem que não saia de sua cabeça), não sabia o que estava acontecendo com seu pai. Tudo bem que desde a morte da mulher ele não estava muito bem psicologicamente, mas o que teria o levado a sair correndo daquele jeito? De onde será que ele e seu patrão se conheciam? Muitas perguntas rondavam a cabeça de Rita e permaneceriam sem resposta se ela não tomasse a iniciativa de ir falar com seu José.
— Pai, o que está acontecendo?
— Como assim, minha filha?
— Não tente me enrolar. Eu sei que está acontecendo alguma coisa que o senhor não quer me contar. – Rita estava claramente nervosa.
— Calma filha, eu não tenho nada para te contar.
— Como não? Você é muito cara de pau, mesmo!
— Respeite o seu pai. Posso estar velho e doente, mas ainda sou seu pai e assim permanecerei até o final dos meus dias.
— Como você quer que eu te respeite se você nunca me respeitou. Até hoje eu não sei por que a mamãe se matou...
— Se não sabe é porque não tem que saber!
— Quer dizer então que eu não posso saber o que minha mãe estava pensando na hora que resolveu acabar com a própria vida?
— Se isto for o melhor pra você...
— Quem é você para dizer o que é o melhor para mim? O senhor não sabe o sofrimento que é a minha vida desde que a mamãe se matou...
— Eu imagino. Não se esqueça que também sofro. E pode ter certeza que mais que você.
— Como o senhor pode saber disso? Você não tem noção de como é saber que sua mãe não quis mais viver, mas não saber o motivo que a levou a tomar essa decisão.
— Pior que não saber o motivo é saber e se sentir culpado.
— O que o senhor aprontou?
— Não te interessa.
O velho começou a chorar. Não podia suportar tamanha pressão. Rita gritava com ele, porém seu estado de nervosismo era tanto que não ouvia os berros da filha. Apesar dessa discussão os dois se amavam. Não podiam discutir daquele jeito. Estava na hora de Rita saber toda a verdade.
— Filha, acalme–se. Prometo que assim que se acalmar te contarei essa história.
— Pois bem.
— É uma história muito longa e sei que assim que terminar de contá–la você sentirá nojo de mim, por isso nunca te contei. Para falar a verdade não sei se terei forças para te contar. Você tem que entender que é muito doloroso para mim.
— Eu entendo. Mas o senhor também tem que entender que tenho que saber o motivo da morte da minha mãe. É uma questão de sobrevivência.
— Não se preocupe. Te contarei.
Com certeza vocês já assistiram aquelas cenas de novela onde som vai diminuindo aos poucos para que um segredo não seja revelado. Então imaginem que isso aconteceu agora. Rita já pode – e deve – saber o segredo que se esconde por trás da morte de Maria José, entretanto vocês não.
***

— Senhor Geraldo, preciso falar com o senhor. – Rita disse isso da porta do escritório de Geraldo.
— Entre, Rita. Sinta–se a vontade. Você está melhor?
— Sabe como é, né? Um dia vou dormir do lado do homem que amo, no outro a cama está vazia. Mas eu vou levando. Tenho meu pai e minha filha que me dão muita força.
— Com certeza a família é muito importante nessas horas.
— Sem dúvida... Mas não é sobre a minha viuvez que vim tratar com o senhor. Vou ser direta, porque não gosto de rodeios.
— Então vá direto ao assunto.
— Por que o senhor me contratou?
— Como assim?
— Por favor seja tão direto como eu fui. Você entendeu perfeitamente a minha pergunta.
— Fique calma. Só não estou entendendo o motivo dessa pergunta.
— Como não? Você me contrata do nada, sem saber quem sou eu.
— Já te disse que fui com a sua cara.
— Ninguém contrata por esse motivo.
— Eu contrato.
— Sua voz deixa transparecer que você está mentindo.
— Tudo bem. Contarei a verdade. Mas você vai achar que eu sou um idiota. Você já assistiu aquele filme "Corrente do Bem"?
— Sim, e achei muito bonito. Mas o que isso tem a ver?
— Eu resolvi começar uma Corrente do Bem. Mas tenho vergonha de assumir isso.
— Bela intenção. Porém você há de convir que isso é muito estranho.
— Eu disse que você não ia acreditar. – a voz de Geraldo mostrava que ele não estava mentindo.
— Realmente não acredito, mas não vou discutir com você. Não posso ser demitida. Para mim pouco importa os motivos que levaram você a me contratar. O que me importa é ter emprego.
— Então o assunto está encerrado.
— Tenho mais uma pergunta. Você já conhecia meu pai antes do enterro do Luis?


Enviado por Gabriel H.



sábado, maio 15, 2004

U.S.Anos


Neo–colonizadores U.S.Anos vieram às terras brasileiras como vândalos relembrando antigas atitudes bárbaras, sedentos por destruir qualquer coisa não condizente com seus costumes ou desejos.
Eles queriam ser venerados, cultuados como imperadores romanos, mas felizmente ninguém foi tão submisso a eles. Brasileiros foram torturados ou mortos indiretamente pelos usadores sob a falaciosa informação de serem comunistas ou contra–capitalistas. Usaram, abusaram de nós e nós? Recebemos trégua, sorrimos, continuamos nossas vidas, ou seja, acreditamos na liberdade, na paz. Inconformados com tamanha alegria vieram a reclamar almejando, quem sabe, voltar a nos maltratar. Sócrates* diria assim: "Podeis apenas matar–me, exilar–me, ou cassar meus direitos políticos. Mas eu não sou o primeiro; e não há o perigo que eu seja o último".
Noutro lado do continente destruição para possível conquista consumidora, lucrativa. U.S.Anos são defensores do dólar, tudo farão para protegê–lo mesmo desrespeitando a ONU, diferenças, crenças, culturas, costumes, gostos...este texto seria interminável se fosse descrever todos os desrespeitos praticados por esses gananciosos.
Voltando às terras tupiniquins, nosso Excelentíssimo Amado Presidente Lula portou–se bem quando falou em expulsão, pois o dito 'jornalista' desrespeitou, ofendeu, insultou todos sem exceção, ouviu Gabriel? Quem ficar parado será engolido e depois expelido com identidade xerocada dos gringos, extremamente nacionalistas — diga–se de passagem.


*Fernandes, Millôr. Liberdade, Liberdade. L&PM Pocket, 1997.


Enviado por Marcel



sexta-feira, maio 14, 2004

Ditadura


Sempre tive um certo interesse por ditaduras e ditadores. Certa vez cheguei a iniciar uma pesquisa para escrever um livro traçando um perfil destes homens que usurpam o poder de seus países. Esse livro teria o perfil geral e a história de como começaram as grandes ditaduras. Acabei deixando o livro de lado depois de pesquisar alguns ditadores e escrever um ou dois capítulos.
Acabei me desviando do foco que quero dar a crônica. Não vim aqui falar de meu antigo livro e sim de uma ditadura específica. A ditadura que foi instalada essa semana na República Federativa do Brasil. Nada de oficial. O Lulinha ainda não declarou que é o presidente eterno do país nem nada do gênero. Mas nas pesquisas que fiz para o livro descobri que a maioria dos ditadores têm uma característica em comum: são autoritários (isso é óbvio) e personalistas. E a atitude do nosso presidente (aquela de expulsar o repórter americano) foi a mais autoritária e personalista possível (só seria pior se ele tivesse mandado matar o pobre coitado, porém isso seria o cúmulo).
Fiquei envergonhado quando vi nos jornais a atitude do nosso governante. Como posso dormir em paz sabendo que a qualquer momento o presidente pode ter um ataque de nervos ao ler uma notícia em algum jornal de bairro(não que o New York Times o seja) e expulsar metade dos jornalistas do país?
Nem mesmo no governo militar aconteceu isso. Somente um visto de trabalho foi cassado e somente um jornalista estrangeiro foi expulso (pelo menos é o que ouvi, não sei se é verdade). É triste falar que até mesmo os governantes militares, tão tiranos e cruéis, respeitaram mais os direitos dos correspondentes internacionais. Contudo não podemos esquecer que esse foi o destino que povo escolheu, no dia que elegeu o Lula para a presidência.
Já faz umas duas semanas que pretendia escrever sobre a constituição. Vi uma frase do Ulysses Guimarães sobre ela e resolvi que usaria essa frase como base para uma crônica. Entretanto faltou paciência e criatividade para escrever essa crônica. Essa semana, na segunda–feira, já havia me decidido que finalmente escreveria sobre isso. Contudo o presidente mudou meus rumos. Seu ato autoritário e impensado me fez refletir durante algum tempo. Decidi escrever sobre isso.
P.S.: Agora pouco deu um plantão na Globo informando que o presidente voltou atrás na sua decisão. Graças a Deus ainda sobra um pouco de consciência na cabeça do presidente.


Enviado por Gabriel H.



quarta-feira, maio 12, 2004

Rita


Capítulo II — Do céu ao inferno


— Mas como assim?
— Como assim o que? Você me pediu um copo d'água e um emprego. Sempre fui um bom comerciante. O desejo do freguês é lei.
— Você nem me conhece. Como vai me dando um emprego. Não sabe onde trabalhei. Não sabe nem se já trabalhei.
— Para mim referências não importam. Fui com a sua cara. Gostei de você. Amanhã você começa a trabalhar como garçonete aqui. Chegue cedo e traga sua carteira de trabalho. Precisamos acertar as papeladas.
Tudo bem. Eu sei que isso tudo parece muito irreal. Mas aconteceu. Esse é o começo da história de Rita. Foi assim que sua trajetória começou. Não posso fazer nada. Também demorei para acreditar, contudo pesquisei. Sei que é verdade (tudo bem que eu prometi que diminuiria a conversa com os leitores, mas achei esse comentário pertinente).
Acho que quem acreditava menos no que estava acontecendo era a própria Rita. Empregos não caem do céu. "Como fui arranjar um assim, de uma hora para outra, quando menos imaginava?", essa frase não saia da cabeça da moça. Os motivos que levaram aquele simpático homem a contratá–la são desconhecidos. Pode ter sido de fato que ele tenha gostado da moça. Mas isso é esquisito. Rita não contrataria ninguém dessa maneira. Porém não conheço a verdadeira história e mesmo se conhecesse creio que não seria o momento ideal para contá–la. Continuemos com os fatos oficiais.
Rita voltou para casa muito feliz. Os vizinhos olhavam seu sorriso e viam que algo tinha acontecido. Ao ser indagada sobre o motivo de tamanha satisfação, respondia:
— Estou empregada! Todos estão desempregados na família e de repente chegou esse emprego!
Ficou muito surpresa ao entrar em casa e ver seu pai fazendo uma visita. Só podia ser coisa do destino. O velho José Maria tinha um jeito carrancudo de ser – talvez por conta de seu triste passado. Por mais contente que estivesse seu olhar era triste, sua cara fechada e era raro encontrar sequer um esboço de sorriso em sua face. Coitado do velho homem. Sofreu muito. Sua mulher – a mãe de Rita – fora uma benção em sua vida, porém ele não soube aproveitar o presente de Deus. Depois de muito sofrer por conta do marido, Maria José – os nomes parecidos do casal sempre trouxeram um charme extra – resolveu se matar (mais para frente isso renderá um capítulo). Se arrependimento matasse José Maria já estaria em sua cova, ao lado de Maria José.
Rita entrou de mansinho, seu pai e seu marido conversavam animadamente e ela, apesar da ótima notícia que tinha para contar, não queria atrapalhar o momento de descontração tão raro em seu pai. Os homens conversavam sobre futebol e discutiam a última convocação de Parreira – seu José Maria não conseguia entender como o treinador brasileiro não colocava Marcos no gol. Rita ficou admirando os homens de sua vida conversarem sem ser percebida. Aquele dia era, de longe, o melhor desde o seu nascimento. Ela havia conseguido um emprego e seu pai estava feliz, deixando um pouco de lado o jeito carrancudo de ser.
Seu José Maria e Luís (para quem não sabe, Luís é o nome do marido de Rita) deram conta de que estavam sendo observados e cumprimentaram Rita. A moça entrou na sala, com um sorriso "de orelha a orelha". Ao reparar a alegria da esposa Luís perguntou:
— O que aconteceu meu bem? Por que você está tão feliz?
— Vocês não vão nem acreditar. Eu consegui um emprego!
— Que emprego? – perguntou o pai, excitado com a notícia que a filha dera
— De garçonete. Vocês nem imaginam como eu consegui esse emprego.
Começou a narrar toda a história que conferiu ao rosto dos homens um misto de alegria e espanto.
— Amor, você tem certeza que não tem nada de ruim por trás desse emprego?
— Aparentemente não, mas se tiver eu zarpo fora e não deixo nem pista.
— Como chama essa lanchonete? Você não nos disse o nome.
— É aquela lanchonete famosa. A Silva. Vocês conhecem?
A reação do pai foi a mais estranha possível. Ao ouvir esse nome ele empalideceu, levantou–se da poltrona onde estava sentado e foi até a rua. Parecia não comandar seus atos. Atravessou sem olhar para os lados e por pouco não foi atropelado. Luís foi atrás. Ia na cola do sogro, tentando impedir que o pior acontecesse. Entretanto o pior aconteceu. Não ao sogro, mas a ele. Luís estava morto. Um caminhão havia lhe atingido. Depois de tantos momentos alegres no mesmo dia Rita agora chorava. Luís era um homem bom. Moralista, é verdade, contudo eternamente bom. Mais do que ótimo marido e maravilhoso pai, fora o melhor amigo de sua família.
No dia da morte do marido, Rita mandou avisar no emprego o acontecido e pediu ao patrão um período para ficar em casa antes de trabalhar. O patrão, seu Geraldo Silva, muito simpático como sempre, acatou o pedido da moça e deixou a lanchonete aos cuidados de um funcionário para ir ao velório.
Consolou a nova funcionária dizendo que tragédias acontecem todo dia. Foi cumprimentar a família, um por um, até que quando chegou no pai da viúva houve uma troca de olhares que Rita não pode deixar de perceber. Era um olhar de raiva que partia de ambas as partes, mais por parte do seu José Maria do que de Geraldo, mas a raiva era mútua, não dava para discutir.


Enviado por Gabriel H.



sexta-feira, maio 07, 2004

Gente,
Resolvi que hoje não vou publicar nada. Estou sem vontade de escrever nada e além disso estou sem criatividade. Se mudar de idéia daqui a pouco faço uma crônica e posto aqui.
Estou começando a ficar resfriado e isso me deixa profundamente irritado.

Grato.


Enviado por Gabriel H.



quarta-feira, maio 05, 2004

RITA


Capítulo I — Na fila do desemprego


Essa é uma história muito comprida e nem sei direito por onde começar. Já sei o que o leitor deve ter pensado. Deve ter sido algo como: "Comece pelo começo, oras!". Mal sabe o senhor (ou a senhora) o quanto é difícil contar esses fatos. Sou um dos poucos que já conhece toda a história e guardar segredo durante muito tempo será uma dificuldade para um "língua de trapo" como eu. Coloque-se no meu lugar. Não posso contar o começo da história. Terei que iniciar a narrativa do meio, pois assim você não terá noção dos segredos escondidos por trás de RITA.

****

O desemprego é um sério problema que urge por solução, mas que não será resolvido de um dia para outro. A cada dia que passa as filas nas portas das fábricas crescem e as pessoas acumulam mais decepções. Basta um simples anúncio no jornal oferecendo vaga para caixa de supermercado ou um concurso público para gari para que centenas e mais centenas de pessoas se aglomerem em filas de dobrar quarteirão.
Se engenheiros lutam por um salário mínimo. Se médicos querem ser gari. Imaginem o que não acontece com uma jovem de vinte e poucos anos, que tem apenas o colegial completo. Qualquer vaga que for oferecida é aceita! Entretanto nenhuma vaga é oferecida e as contas se acumulam em casa. Para piorar a situação o marido também está desempregado e até mesmo a filha de quatro anos de idade já anunciou que se for necessário ela também trabalhará para ajudar a família.
Não fique pasmo. A situação brasileira realmente é assim e você, ao invés de ficar lendo essas mal escritas linhas poderia olhar para o lado e ver que a coisa está grave. Você reclama do seu emprego. Reclama do seu chefe. Reclama dos colegas de trabalho. Porém se esquece que muitos de seus compatriotas não tem um emprego para reclamar. Para você só tenho uma coisa a dizer: EGOÍSTA!
Desculpe o desabafo, finjam que não o leram, mas quando conheci Rita e sua história fiquei revoltado com o problema do desemprego.
Conforme você já deve ter imaginado, a moça com apenas o colegial completo é Rita. E nossa história começa em mais um fila de desempregados que ela enfrentou.
Era uma manhã de segunda-feira, fazia muito calor, Rita havia enfrentado três horas de fila apenas para entregar um currículo (praticamente em branco). Estava com sede, na bolsa só tinha o dinheiro para a condução. Não podia comprar sequer um copo d'água. Começou a passar mal — seu organismo exigia pelo menos uma gota de água. As pessoas rodavam ao seu redor. Parecia que a qualquer momento cairia desmaiada. Por pouco não foi o que aconteceu. Quem sabe tenha sido conspiração do destino? Não posso afirmar com certeza. Só sei que Rita, praticamente sem querer entrou em uma lanchonete. Uma famosa lanchonete de São Paulo. A lanchonete Silva.
Entrou. Sentou (quase que por osmose). Um homem muito simpático veio atendê-la.
— O que deseja?
Rita conhecia aquele rosto de algum lugar. Ele não era um simples garçom. Já havia aparecido na TV alguma vez.
— O que deseja? — insistiu a simpática figura.
— Para agora um copo d'água. Mas não posso pagar. Então preciso com mais urgência ainda de um emprego.
— Pois não! A água eu já te trago. O emprego você começa amanhã.


Enviado por Gabriel H.



sábado, maio 01, 2004

ESCREVER PARA VIVER...

Após minha ausência semana passada, volto a escrever-lhes num sábado. Dia apreciável, esperado e de aventuras; resumidamente: motivador. Gabriel, fã de Mario Prata, hmmmm!! Quase li nada, mas ouvi uma frase, mais ou menos assim dele: "Eu escrevo muitas vezes com prazos, porque é da escrita que tiro o meu sustento".
Então, nem sempre inspirações fazem parte das palavras do escritor, se ele tiver jeito pra coisa, bom, isto não fará tanta falta. Imaginem todos vocês alguém desesperado por rabiscar palavras...desesperado por valorizarem-no profissionalmente pouco. Isto, inclusive, foi tema de "Sandman", escrita por Neil Gaiman, fugiu agora o número. Nesta revista é apresentado ao leitor um velhinho que guarda num de seus aposentos uma mulher especial, Caliope — desculpe se está grafado errado, a revista foi por mim lida numa única oportunidade. O idoso entrega-a nas mãos daquele desesperado, desconhecedor das benesses de tal fêmea. Qual a primeira vontade do rapazola, qual? Trepar com Caliope. Chorosa pede para não fazer isto, para libertá-la. Sem dar ouvidos, vai e pou! Depois da transadinha básica, fica inspirado para escrever, escreve magistralmente. Ganha fama, seus livros se bobear viram até "best-sellers". Querem que eu conte o final da história? Melhor parar aqui, senão perde toda graça, fá-lo-eis perderem todo interesse em buscar esta H.Q (história em quadrinhos).
Em suma, pegar caneta, transpor palavras pro papel de maneira a entreter, agradar, provocar espectadores (licença literária) exige bastante de nós. Se entenderam, entenderão porque deixei-os sem crônica, deixei-os quem sabe mais vazios. Nossas cabeças autoras também sofrem influências dos fatores externos, principalmente, pai, mãe, irmãos ou amigos. Estes conseguem levantar, baixar, brincar com nossa auto-estima. E quem se acha isento disso; mentiu para si mesmo, mentiu!


Enviado por Marcel