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quarta-feira, agosto 04, 2004
Rita
Capítulo XIV – Cuidado, filho!
— Alô, filho? – era Geraldo que havia ligado do quarto de hotel para seu filho.
— Pai, acho melhor não conversarmos. Você sabe que estou do lado de mamãe e que se eu for falar com você sobre a separação vamos acabar brigando. – Mauro estava com voz de quem estava chorando.
— Não quero falar sobre a sua mãe, nem sobre separação e muito menos sobre a Rita. Passei a manhã inteira pensando em você e precisava te falar algumas coisas.
— Pode falar.
— Não dá para falar por telefone. É um assunto muito complicado e eu nem sei como você vai reagir.
— Em que hotel você está?
— Naquele que o dono é meu amigo. O Plenitude Hotel.
— Sei onde é. Estou indo para ai agora mesmo.
Mauro desligou o telefone celular, estava no escritório de seu amigo – ou mais do que isso – e vereador João Diniz conversando justamente sobre a votação surpreendente daquela que era aliada de um e inimiga de outro. A conversa estava quente, pois segundo Mauro a culpa da eleição de Rita era de Diniz, entretanto o vereador que no final do ano deixaria a Câmara Municipal e começaria a preparar sua campanha para deputado alegava que se ele não tivesse visto o potencial de Rita, outro teria enxergado e o resultado seria o mesmo.
O filho de Geraldo interrompeu a conversa e disse que ia se encontrar com o pai, pois havia ficado muito curioso com o tom de mistério que o “velho” havia dado a conversa. Pegou o carro e se dirigiu para o hotel. Não tinha a mínima idéia sobre o assunto da conversa, entretanto queria logo acabar com aquele mistério. Chegou no Plenitude Hotel e perguntou pelo número do quarto do pai, recebeu a resposta e dirigiu-se ao quinto andar, ali, no número 502, estava hospedado seu pai. Bateu a porta e esperou que Geraldo fosse abrir. Entrou. Sentou-se. Pediu um copo d’água e finalmente teve coragem de perguntar:
— Qual é o assunto?
— Sua opção sexual.
— Sabia que eu não devia ter vindo. Se você vai me passar sermão, tentar que eu vire homem eu vou embora agora mesmo.
— Não vou passar sermão nenhum. Só quero conversar. Eu sei exatamente como é a sua cabeça. Eu já passei por isso e não quero te reprimir. Só sou como sou porque meu pai não me deixou escolher o que queria.
— O que você está falando? Vai me dizer que você é gay? Parece até piada. Você não espera que eu caia nessa sua pegadinha, espera?
— Hoje em dia eu não sou mais gay. Faz muitos anos que eu não tenho relação com nenhum homem. Desde que eu casei com a sua mãe eu só me envolvi com mulheres. Primeiro ela e agora a Rita.
— Mas e a sua fama de mulherengo?
— Eu tive que fazer essa fama só para agradar seu avô. Mas com o tempo eu fui aprendendo a gostar de mulheres. Cada vez menos eu me envolvi com homens, até o dia que resolvi casar com a sua mãe.
— Aonde o senhor quer me chegar contando tudo isso?
— Quero te pedir para que tome cuidado. Como eu já disse, conheço bem a situação, sei os problemas que você pode enfrentar. Com você é mais fácil, afinal você já assumiu sua condição e luta para que ela seja respeitada. Mas também pode ser mais difícil, afinal o preconceito é maior. O que eu quero dizer meu filho, é que o desgaste pode ser muito grande. Por conta de um namorado que eu tive, muita desgraça aconteceu e esse homem paga o preço até hoje. Não quero que você deixe de ser gay, eu sei que isso não é muito possível e mesmo se fosse eu não ia pedir uma coisa dessas, o que eu quero é que você tome cuidado com suas relações. Principalmente se o homem não assumir publicamente que é gay, isso pode trazer desgraça para você e para ele. Eu sei como é.
— Nossa, pai. Nunca imaginaria essa sua história. Nem sei como reagir. Mas porque você resolveu me contar essa história agora?
— Passei o dia pensando em você, em mim e em tudo. Precisava desabafar com alguém e pensei que você fosse o único que me entenderia.
— Pode ter certeza disso. Sempre que precisar é só chamar.
Enviado por
Gabriel H.
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